唐楓 - Acer Tridente Hokidashi - Uma longa História

A inexorável passagem do tempo deixa as suas marcas sobre todos nós. Contudo, a nossa memória não consegue guardar a 100% as mudanças que vão acontecendo lentamente e pouco a pouco sobre as nossas árvores.

Dai ser muito importante efetuar registos fotográficos dos nossos projetos e Bonsais. É gratificante ver as mudanças dos mesmos. E podem ser efetivos para descobrir problemas nas nossas árvores e erros da nossa parte.

Este Acer Tridente foi nascido de uma estaca por volta de 2009. Sei que esta estava foi retirada de uma árvore que comprei em 10/3/2007. Sobreviveu até aos nossos dias pela divina graça do instinto de sobrevivência que todos os seres vivos possuem. Esta árvore viveu toda a vida num vaso. E muitas vezes ficou esquecida, sem ser regada, transplantada ou adubada.

Sei que volta de 2011-2012 já tinha algum calibre e optei por lhe fazer o corte em V que todos diziam para começar uma árvore em estilo vassoura (Hokidashi) Não tenho fotografias nem registo escrito. Era mais uma estaca, um projeto, e dos fracos não reza a história.

Depois da minha paragem prolongada no mundo do Bonsai, voltei com alguma apreensão a pegar neste material. Era das poucas coisas que tinha sobrevivido. Tinha vários defeitos a nível de Nebari, e a copa estava uma autêntica desgraça. Estava abandonado há mais de 5 anos.

Quando voltei em 2018, estava bastante destreinado do mundo do Bonsai. Para além de que a maior parte dos meus anos de Bonsai foi passado em profunda ignorância (muito por falta da informação e não pelo gosto de aprender) Mas estava  decidido a voltar em cheio. E aplicar técnicas que nunca tinha usado. Mas como já não ia à tempo de transplantar, passei o tempo em podas e pinçados.

De momento desfrutem da progressão de 10 meses de pinçados até 2019.


Aguardei pacientemente até meio de Fevereiro de 2019 para efetuar uma intervenção agressiva no Nebari. Sou da opinião de que devemos trabalhar tudo desde a base. E o Nebari é a base de qualquer Bonsai. Sem este, a árvore será sempre um material medíocre. Assim, atirei-me com o método Ebihara para o melhoramento desta árvore.

Eliminei mais de 70% das raízes. Sempre deixando suficientes para a sobrevivência da árvore. Apliquei uma tábua, que iria deixar aproximadamente uns 4-5 anos até formar um excelente Nebari.



Reduzi a altura do vaso para restringir um pouco mais o crescimento. A nível aéreo tenho apenas que criar mais ramas principais, e engrossar algumas das que já tenho, mas os entrenós devem ser curtos. Dai, este vaso deve ser suficiente para esta tarefa. O objetivo que tenho é de ir reduzindo o tamanho do vaso de 2 em 2 anos.



Os anos vão passando e, embora tivesse uma ramificação bastante avançada, optei por ir aperfeiçoando as ramas. Trabalhando a conicidade e a saída das mesmas. A ideia de desenho que tinha é que as ramas pareçam sair todas do mesmo centro. Ou seja, de um ponto em comum é se expandiam para fora, coisa que não estava a conseguir. Para além disso, tinha muitas ramas secundárias que nasciam num mesmo ponto, quando devemos apenas ter 2, 3 no máximo.

Com os anos de estudo que se me vão acumulando nas pernas sei que a acumulação destes erros são sinónimo de insatisfação futura. Meti as mãos ao trabalho e reduzi significativamente a ramificação, mas ficaram apenas as que respeitavam as regras do jogo.

Aqui fica uma foto de Maio de 2019.



Um dos handicaps que sempre tive foi a formação de uma rama central, mas que podem constatar na foto, já se encontra guiada. Finalmente, recortei a terminações anti estéticas e apliquei pasta cicatrizante.

Fui trabalhando mais meticulosamente a ramificação 2 vezes ao ano. Aproveitava para aramar durante o desfoliado e fui acrescentando mais ramas ao conjunto.

No inicio de 2021 voltei a transplantar este Acer tridente. Desta vez num vaso mais pequeno, tentando comprimir mais as raizes para obter raizes mais finas e um Nebari mais compacto. Em 2 anos consegui melhorar substancialmente o Nebari, coisa que não é muito difícil nesta espécie. Mas temos muito por recorrer. 

Fica uma foto em jeito de brincadeira, recordando as posições José Luis Pitarch Ávila, um espanhol que se especializou em criar bons Nebaris. Com as suas fotografias aprendi muita coisa. E não é demais agradecer a quem nos ajuda.


Sinto que ainda tenho muito trabalho pela frente. criar a ramificação como pretendo é um castigo. É trabalho constante. E se as ramas engordam um pouco mais, temos de refazer. Enquanto as ramas estão muito verdes, partem facilmente quando tentamos colocar no lugar desejado. Em fim!!!

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