O Equilíbrio Visual (A Regra dos Terços)

Como prometido, vou continuar a tese do equilíbrio visual dentro da composição bonsaística.

Tinha elaborado uma introdução do equilíbrio visual aqui. Falei um pouco sobre a simetria e a assimetria. Desta vez vou alargar o espectro para uma regra muito usada na pintura e fotografia: A regra dos terços.

Basicamente a regra dos terços é uma teoria de composição pictórica que se baseia na colocação dos pontos de interesse dentro de uma composição. Baseia-se numa simplificação da proporção áurea (que irei abordar mais em diante) Como a proporção áurea ainda é um bocado complexa, a maioria dos artistas usa esta regra, dado que é muito simples de usar e tem um efeito similar.

Tomamos uma composição e a dividimos em terços, tanto horizontalmente como na vertical. imaginamos linhas que correm por onde devem encontrar-se os terços. Estas linhas se intersectam em 4 pontos, que poder ter bastante interesse (dentro do bonsai nem sempre são uteis estes pontos, mas não é demais referir que se podem usar para destacar algo interessante na árvore) Ao colocarmos pontos importantes encima (ou próximo) das linhas e pontos de interseção, criamos uma composição harmoniosa e equilibrada dentro da composição. Proporcionando naturalidade à distribuição dos pontos de interesse.

É fácil utilizar esta ferramenta. E para tal, nada melhor que uns exemplos. Comecemos por este junípero. Uma árvore soberba que foi exposta na European Bonsai San Show de 2019 (os restantes exemplos foram todos retirados desta expo. Não conheço o nome do fotógrafo, mas deixei a marca de água para que possa ser reconhecido)


Ao aplicarmos a regra dos terços destacamos que se colocarmos a massa foliar dentro do quadro temos uma composição bastante harmoniosa: 
  • A primeira rama ocupa uma esquina do quadrado (tendo como altura um terço)
  • A segunda rama se encontra no primeiro terço horizontal (tendo como longitude um terço)
  • O ápice está próximo do segundo terço vertical. E essa linha passa sobre o fim do vaso e uma das pernas da mesa de exposição.


Passemos a outro exemplo, um Teixo:


Aqui vemos que com a regra dos terços temos aplicados 3 patamares.
  • A primeira rama no fundo.
  • A segunda rama no primeiro patamar
  • O inicio do ápice no segundo patamar
  • A árvore tem posicionado um dos terços verticais mesmo no meio do vaso.


Continuemos com este exemplar de Pinus Sylvestris:


 

Neste caso estendi o quadro dos terços até abarcar toda a árvore.

  • A primeira rama tem um pouco mais de um terço de longitude e está ao mesmo nível que o Nebari.
  • A rama posterior está pousada sobre o primeiro patamar e coincide com a altura do Jin inferior.
  • A rama lateral está sobre o segundo patamar.
  • O primeiro terço  (indicado com linha azul) está ocupado pelo ápice e pelo segundo terço do vaso.
  • Podemos incluir também que o centro do quadro coincide com o rebordo do vaso. Embora não seja 1/3, a formula de 1/2 também está inserida na sequencia de Fibonacci.




E já que falei na regra da metade, coloco aqui outro exemplo:



Este pinheiro, tomado na sua totalidade aproveita para:
  • Ter a primeira rama no primeiro terço.
  • A  segunda rama sobre a metade do quadro (indicada com a linha vermelha)
  • O seguinte conjunto de ramas sobre o segundo terço.
  • O ápice está relativamente perto duma das linhas verticais.



E concluo com este belo exemplo. Uma Oliveira soberba que prima pela sua harmonia numérica.


Por detrás da beleza intrínseca, muitas vezes se esconde matemática pura e dura.
Ao analisarmos a massa foliar constatamos que:
  • O ápice se encontra no centro da massa foliar
  • Diversas ramas pousam sobre o primeiro patamar.
  • O mesmo acontece com o segundo patamar.
  • No quadro central, no centro, pousa uma rama que tem exactamente um terço de longitude.
  • O primeiro terço vertical pousa sobre o centro do vaso.
  • O centro do quadro pousa sobre um desenho do vaso, o que lhe dá bastante graça ao conjunto.
  • O segundo terço vertical pousa sob o fim do vaso.



E adivinhem onde se encontra posicionada a primeira rama? Exacto! A 1/3 da altura da árvore. Parabéns ao autor desta árvore. Se souberem quem é agradeço que me informem. Merece um reconhecimento de todos nós.




Volto a fincar que a regra dos terços não tem de ser "ao milímetro" de exactidão. E que não é uma obrigação fazer cálculos aritméticos complexos, e ter uma régua para conseguir um "belo bonsai". Mas sem dúvida que a matemática ajuda um pouco no processo.

Espero que tenham gostado desta resenha matemático-bonsaista. Agradeço que possam discutir comigo as vossas opiniões, críticas e novas ideias para discutir.







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