流 NAGARE - A direção de um Bonsai

 流 = NAGARE 

Adoro usar palavras japonesas para descrever algumas definições. Nagare é uma delas. Ela nos descreve o movimento, o fluxo, a corrente dentro de uma composição bonsaistica. Temos de pensar na árvore (ou os restantes elementos duma composição) como uma entidade líquida que flui. Possui movimento, embora estática. Como um rio.

Esta direção do fluxo não nos serve muito para o desenho da árvore, embora possa ser prática habitual, na hora de decidir um frente, ver por onde flui o desenho. Mas para a exposição, a percepção do Nagare é essencial.

Em matemática, a direção de fluxo se explica muito facilmente: É a projeção no eixo horizontal do percurso do bonsai a partir do nebari. Com este sistema, é possível imaginar que o Nagare é um segmento e que a relação nagare/altura da planta equivale à força direcional (lembrando os vetores das leis de Newton)

Em palavras parece complicado, em imagens, vão ver que não é nada difícil de perceber.


Num Chokkan, como o da imagem anterior, o movimento do nosso olhar é vertical. A projeção do movimento é quase nula. Pelo contrario, num estilo Shakan (inclinado) será bastante pronunciado em relação ao eixo horizontal.



Este é o método mais simples e intuitivo de encontrar a direção. Se for para a direita denomina-se Migi-nagare, para a esquerda Hidari-nagare.  

Na seguinte figura colocamos o fluxo do olhar em amarelo. Em vermelho o ponto focal (o que atrai o olhar do espectador num primeiro momento)e em azul a força direcional. 


Existem árvores que nos podem enganar. Vejamos o exemplo deste Pinheiro Branco. Dado que não é fácil encontrar um ponto focal, tentamos analisar o equilíbrio visual. E vemos que o mesmo se inclina para à esquerda. Outros casos podem ter uma rama mais pronunciada, um menor espaço negativo, ou o ápice ligeiramente fora do centro.


Uma rama mais pronunciada (Sashi-Eda), que sai fora do conjunto, força a direção para esse lado:


 A madeira morta nem sempre representa a direção do conjunto. Nos caso do "Dancing Dragon" de Masahiko Kimura é o ápice que nos promove a direção.


Aqui temos um ponto focal que desloca o olhar para à esquerda. Mesmo tendo muita madeira morta à direita.


A ausência de espaço negativo faz com que o peso visual seja maior do lado esquerdo.


A colocação no vaso pode influenciar a direção. Vejam o caso desta árvore muito simétrica, mas plantada à direita.


Uma curva muito pronunciada no tronco pode influir inversamente na direção da árvore. Curva à direita inclina o fluxo da árvore para à esquerda.


Se todas as características forem neutra, então o bonsai não tem direção e pode ser exposto tanto à direita como à esquerda.


Seja como for, o Nagare deve ser considerado na hora de expor uma árvore. Eis a sua importância. Na hora de expor (Kazari) o conjunto deve contar uma história e permitir o fecho de um ciclo óptico. O bonsai se inclina para a Shitakusa, e esta para a mesa do Bonsai. Se o fluxo for interrompido, o alvo da exposição falha.

Quanto mais forte for o Nagare, melhores Kazaris são criados.


Espero que tenham desfrutado deste artigo tanto quanto eu desfrutei de o fazer. Agradeço os vossos comentários.











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