Quando temos de começar tudo de novo.

Esta é daquelas histórias que para muitas pessoas podem parecer trágicas, mas que eu, pessoalmente, tomo com suma naturalidade na arte do bonsai. Começar tudo de novo...

O dia 5 de Agosto de 2018 recebi como obséquio este junípero pela parte do meu grande amigo Bruno Lima. Como podem notar na foto estava um bocado despenteado. Lamentavelmente o meu amigo estava com pouco tempo, e antes que algumas árvores morressem, preferiu dar do que deixar morrer.


Nesse inverno coloquei mãos à obra. Honestamente, o meu calcanhar de Aquiles no Bonsai são os juníperos. Não sei porque, mas eu e esta espécie não nos levamos bem. Penso que já tenho melhorado um pouco, mas aqui fica o triste trabalho que lhe fiz na altura.


Para além da minha falta de habilidade nesta espécie, esta árvore tinha uma situação defeituosa, muitas das suas ramas nasciam de um mesmo ponto, como se de tentáculos de um polvo se tratasse. Sabia que a partida isto era insustentável. Tinha de ser obrigado a corrigir isso, mas não lhe via grande solução. Implicaria fazer grandes contorcionismos e não me sentia com a confiança de fazer isso.


2 anos depois a árvore crescia a olhos vistos. Tinha transplantado em 2019 e ia aparando os patamares (que ainda não me convencem) A foto é de julho de 2020. Podem ver a série de ramos que saem da mesma zona. O que se torna antiestético.


Irremediavelmente em Outubro de 2020, no único atelier do Bonsai Clube do Porto em que consegui participar (obrigado COVID) levei este junípero. E com a preciosa ajuda do Mário Eusébio, escolhemos os ramos que deveriam ser removidos. Tremeu-me um bocado o pulso antes de o fazer. Eram 2 anos de trabalho deitados ao lixo. Mas tinha de ser.

Para além disso, teria de inverter a posição de 2 ramos. O ápice tinha de ser o primeiro ramo, e não o segundo, tal como se encontrava. Para evitar desastres, os ramos foram enrafiados para segurar a casca durante o processo traumático.

Podem ver a árvore já aramada antes de fazer o contorcionismo:


Depois de corrigir a posição dos ramos, continuei a aramar os restantes ramos. Nada de espetacular, até porque estou bastante apreensivo com o que vai sair daqui. Ouvi 2 estalos durante o processo de dobragem. E temos de elevar as nossas preces à Nossa Senhora dos Bonsais para que nenhum dos 2 ramos faleçam.


Agora temos de aguardar um ano até voltar a tocar nesta árvore. Só tenho de me preocupar pela água, pelo sol e pelo adubo.



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