O equilíbrio visual (Ou procurando um centro)

Depois de algum devaneio, decidi iniciar este projeto pelo blogger. Sinceramente o Facebook não é o método mais indicado para divulgar este projeto. dai, voltei a ideia do blog.

Bem...mas prossigamos ao que interessa.



O que me leva a escrever hoje é um assunto relevante na hora de trabalhar o desenho de qualquer árvore. E como o tema pode ser vasto, vou elaborar vários artigos sobre a utilidade do equilíbrio visual.

Simetria

Inicialmente podemos falar sobre a simetria, algo que as artes japonesas não apreciam de todo. Se desenharmos uma linha vertical sobre qualquer objeto ou figura simétrica, como um círculo; ou um quadrado, este parecerá estar "em descanso". Estático. 

Como espectadores, quando colocamos a vista sobre elas, nos vamos focar unicamente no centro das figuras, e não vamos sentir movimento nelas.


Artisticamente, são formas que nos transmitem equilíbrio ou estabilidade. Mas convenhamos que se podem tornar aborrecidas.

Podemos perceber o que digo neste exemplo: Uma árvore soberba; bem ramificada, e com nenhuma falha a apontar. Mas não há dinamismo nela, apenas estática. Emocionalmente nos transmite uma calma fabulosa. E dela podemos deduzir que teve poucos conflitos com a mãe Natureza. Crescida num vale sossegado, onde foi poupada a grandes nevadas e ao vento impiedoso. 


Assimetria

Mas em arte nada é tão simétrico e matematicamente perfeito. E é neste ponto onde entram as figuras assimétricas. 

Para que se sinta que estas figuras são agradáveis, devemos pensar que a linha que as divide deve estar em sintonia com o centro visual da massa. Ou seja, ao dividir a imagem devemos sentir que tem a mesma "massa visual" em ambas as partes.

Podem confirmar que, embora assimétricas, estas figuras parecem equilibradas. Ou seja, não temos a sensação de que a figura possa cair para um dos lados.

Em bonsai podemos usar esta técnica para equilibrar o nosso desenho. Como também podemos utilizar o efeito contrário, dando dinamismo ao conjunto.

Vou dar-vos um exemplo de como se consegue equilíbrio numa árvore que não está 100% simétrica. 


Este famoso Acer "tronco múltiplo" é do bonsaista Walter Pall. Como podemos confirmar, a linha imaginária não está alinhada com o centro do tronco. A árvore tem muita mais massa do seu lado esquerdo, muito mais denso e com a rama principal mais baixa do que no lado direito. Contudo, sentimos que o seu conjunto está equilibrado. E é aqui onde entra em jogo o "equilíbrio assimétrico"

O artista, para conseguir esse equilibro colocou o ápice desfasado do centro do tronco uns centímetros. Para além disso, também foi colocado o tronco um pouco mais à direita em relação ao centro do vaso.

Um análise frio nos leva a ver que as extremidades da árvore estão equidistantes das extremidades do vaso. E como tal, o tronco teria de estar desfasado do centro do vaso. 

Até aqui tudo ok. Mas para equilibrar o desenho, o ápice jamais poderia estar sobre o centro do tronco. Dai, ter sido corrido à esquerda.

Mais exemplos. Uma cascata.


Este pinheiro (foto retirada de uma exposição japonesa) nos leva a outra abordagem. Este tipo de estilo tem um dinamismo bastante acentuado. Com um movimento abrupto da árvore para a direita. Contudo, e ironicamente, o conjunto não parece muito desequilibrado.  


Ao colocarmos uma linha imaginária, nos apercebemos que de facto o conjunto apresenta 2 massas com pesos bastante semelhantes. Tanto do lado esquerdo, como no direito. Obviamente neste caso, temos o vaso a ajudar no conjunto visual.

O segredo do desenho? Simples...o ápice! Se fôssemos desenhar uma linha imaginária no centro do conjunto, iriamos ter mais área no lado direito. Como tal, o ápice foi corrido um pouco mais à direita, encontrando assim um melhor equilíbrio entre as massas.


Mas nem tudo é assim tão simples. 


Há desenhos que nos parecem sempre dinâmicos e pouco equilibrados. Encontrei este espécime (que me parece um prunus) 


Não é fácil poder calcular as massas desta árvore. E nesta fotografia, dado que a cor do vaso é muito semelhante ao fundo, não sabemos se podemos somá-lo ao conjunto. Mas muito erraticamente vamos supor que se encontra algures entre o ápice e a borda do vaso. Sendo assim, temos de admitir que esta técnica não se mostra muito útil neste exemplo

Mas podemos divagar sobre o tema. Pensemos se alinharmos o ápice com a borda do vaso. E para além disso, equilibrássemos as massas em base a esta linha. Não poderíamos ter um resultado mais satisfatório?

Vou continuar a escrever sobre este tema. Acho que tenho muito pano para mangas. E acredito que possa ser útil para muitas pessoas no mundo das artes, mesmo até fora do bonsai. 

Agradeço imenso os vossos comentários. Todas as críticas, comentários e correções são bem-vindas.

Até breve.







 

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