Wabi- Sabi - わびさび - A Essência da Estética Japonesa

Existem muitos conceitos estéticos (e que como tudo no Japão, podem ser também filosófico-espirituais) exclusivos do Japão. Poderíamos falar de Karumi, Aware, Jimi, Yasake ou Ate. Mas sem sombra de dúvida, o termo estético e filosófico mais conhecido no mundo é a junção Wabi Sabi. Pois este representa a visão de um japonês com respeito ao seu redor, uma abordagem estética centrada na aceitação da transitoriedade e da imperfeição. Algo simplificado como “O belo que é imperfeito, impermanente e incompleto”

Desconcertante aos olhos de um ocidental, que gostamos de coisas novas, bonitas e bem feitinhas…não é?





Mas reparem a importância deste conceito que o filósofo japonês Nishitani Keiji (1900-1990) apresentou o Wabi-Sabi como “A essência da cultura nipônica” na edição do Fórum de Cultura Japonesa sobre a “Essencialidade Japonesa” da revista Shisō, em 1935. Tal é esse sentir japonês que  wabi わび e sabi さび costumam ser escritos preferencialmente em Hiragana, caracteres fonéticos essencialmente japoneses, e não em Kanji, de origem chinesa.

Para a cultura japonesa, Wabi-Sabi é um conceito com muita profundidade e muito multidimensional. Mais do racionalizado, é sentido. É considerado como algo quase intraduzível (algo semelhante a palavra portuguesa "saudade") É algo mais emotivo que racional.

Para nós, os que vivem fora do Japão, a tradução é sempre um ato de traição, no sentido de nunca conseguirmos transmitir exactamente a semântica de uma palavra de uma cultura a outra. Isso também se agrava ao falarmos de algo artístico, onde as palavras não conseguem descrever tudo o que é referido. E ainda se agrava mais quando se trata de culturas tão diferentes, como a ocidental e a oriental. E a especificidade da cultura japonesa torna essa tarefa ainda mais delicada.

Ainda por cima, as definições de Wabi e Sabi são muitas vezes ambíguas e  bastante complexas. Tanto que muitos japoneses não conseguiriam explicar esses elementos, embora instintivamente o entendam. 



Como disse anteriormente, Wabi-Sabi tem origem no Budismo Zen e no Taoismo, e está relacionado à imperfeição, um conceito totalmente contrário ao que geralmente buscamos em nossa vida. Na realidade, trata-se de uma filosofia onde aprendemos a ver a beleza mesmo nas coisas simples, imperfeitas, impermanentes e incompletas.

As suas características estéticas incluem assimetria, aspereza (rugosidade ou irregularidade), a simplicidade, a economia, a austeridade, a modéstia, a intimidade e a valorização da integridade ingênua de objetos e processos naturais.


Como referi anteriormente, a disparidade dos significados pode representar elementos contrários, como “algo miserável” e “refinada tranquilidade”; “velho e elegante” e “enferrujado”. Todavia, é precisamente essa ambivalência que torna as palavras complexas e, ao mesmo tempo, intrigantes e cativantes.



O significado de Sabi pode ser condensado em: pobreza, simplicidade, velhice. E Wabi é o sentimento que todos experimentam nos valores expressos em Sabi.

Wabi Sabi traduz a beleza transitória captada por um olhar humilde ou agradecido, que explora o modo como apreciamos a mudança, e como a mudança se pode tornar foco de atenção e meditação. Percebendo que a perfeição é apenas um mito.

Assim, Wabi caracteriza-se por uma escolha de vida e de estilo, e Sabi por ser algo simples como a natureza nos transmite. Onde a passagem do tempo deixa a sua marca. É uma estética que depende apenas de se desenvolver um certo olhar para discernir o belo na pátina dos anos.


Sentir prazer pelo aspecto natural nos materiais e nas formas, reflete a essência do que significa Wabi-Sabi, produzindo um efeito próximo do que conhecemos por “rústico”. Texturas ásperas, desiguais, diversas e aleatórias, ou seja, aquelas formadas por processos naturais esporádicos, que aceitam o risco. 

Wabi Sabi  não é só uma estética, mas também uma forma de estar e entender o mundo. Que convive com as imperfeições e as aceita, assim como os acidentes de percurso. Desfruta do tempo que passa, a mutabilidade dos objetos, e a possibilidade de deleitar-se com as irregularidades e assimetrias.


Wabi Sabi significa aceitar a imperfeição. Procurar a simplicidade e a modéstia como atributos de beleza. É conseguir ver a beleza em tudo, até nas coisas mais insignificantes da vida. Gostar das rugas e das fissuras causadas pela passagem inexorável dos anos.



E como podemos usar este conceito no BONSAI?

Dada a complexidade do Wabi-Sabi, temos muitas características inerentes a este conceito estético, entre elas poderíamos destacar:

  • A NATURALIDADE: Toda  e qualquer artificialidade deve ser evitada a qualquer custo. Se Bonsai é tentar representar a natureza, não faz sentido que seja notado o trabalho do ser humano. Acredito que não é fácil. Gostamos de ver a ramificação bem feita, os patamares bem organizados. Mas não é bem visto ter uma aparência de "árvore de plástico". Por isso, devemos encontrar o equilíbrio entre o mais natural possível e organizado. 

  • SIMPLICIDADE: "Menos é mais" Sempre ouvi dizer. E no caso da arte japonesa, o excesso de ornamentos não é bem-vindo. Excesso de ramas é desnecessário. Vasos demasiado decorados excedem as espectativas. Muita madeira morta confunde o desenho. Excesso de curvas pode ser contraproducente. O melhor exemplo no mundo do bonsai são os "literatis" Árvores que parecem 3 pinceladas num papel de arroz, com uma graciosidade sublime.

  • QUEBRAR AS REGRAS: Embora a sociedade japonesa seja muito dada aos rituais, às regras e aos protocolos. Não é demais recordar que os que fogem às regras é que conseguem a liberdade criativa que é necessária para qualquer género artístico. No caso do Bonsai, as árvores que mais se destacam são aquelas que quebram a convencionalidade; as pouco ortodoxas; as únicas e especiais.

  • TRANQUILIDADE: Embora o artista tem a obrigação de saber jogar com a tensão-repouso, não há nada mais agradável em apreciar um bonsai do que sentir um sentimento de tranquilidade. Que nos leve ao prazer da calma profunda. De que a nobreza do seu porte nos faça sentir que estamos perante a um "velho da floresta" e sintamos o mesmo prazer de repouso e admiração que sentimos quando estamos perante uma árvore centenária.

  • ASSIMETRÍA: A arte japonesa foge das figuras simétricas. O mesmo acontece com o Bonsai. São raras as composições no mundo do Bonsai que possui uma "quase" simetria. O equilíbrio é conseguido pelo equilíbrio assimétrico, os espaços negativos, o balanço de massas. Quase tudo na natureza é assimétrico. Simetria é excesso de perfeição. Coisa que a natureza desconhece.

  • AUSTERIDADE: Bonsai não seria o mesmo se não refletisse o efeito do tempo nas suas ramas descaídas; na rugosidade da sua casca; na madeira carcomida pelo vento, chuva e sol abrasador. A árvore tem de mostrar as suas rugas com altivez, mostrar desprezo pelo sofrimento e as inclemências do tempo.



    E finalmente, depois deste texto cabe-nos perguntar: Será que já percebo o que é Wabi-Sabi? E provavelmente muitos de nós responderão que sim. Que perceberam a lógica que há por detrás, mas que se torna impossível de explicar. Há centos de livros sobre o Wabi-Sabi, e todos eles tem abordagens diferentes. Por isso, a conclusão é que é um termo estético com um significado individual. Muito subjectivo.






















    Comentários

    Mensagens populares deste blogue

    Pequenas dicas para criar bons Nebaris

    不完全さ As imperfeições de uma árvore... ou de um Homem.

    流 NAGARE - A direção de um Bonsai